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Bridge Reflections by cadoblis
Às vezes não é preciso ir até ao fim do túnel para vermos onde está a luz.
Os Doze Trabalhos Insignificantes
Para eu me dar ao trabalho, nestas alturas, de escrever seja o que fôr é, de facto, obra. Vejamos se percebi bem: Não me apetece tentar contar histórias que, a escorrerem das pontas dos meus dedos andarilhos, teriam o passo lento e cadenciado dos cantares de escravos ou dos cantos de misericórida a um qualquer Deus dos desalentados, quando a verdadeira questão não é o desalento, ou a depressão, ou sequer a desmotivação.
(OK, há concerteza desmotivação por não poder fazer aquilo que quero, mas metade disso é um factor conjuntural e outra metade um desígnio consciente de me manter abaixo do radar numa altura em que estaria claramente a remar contra a maré.)
Mas confirma-se o padrão, a mensagem subliminar que as pessoas vão detectando quando interagem comigo novamente, os reparos de uma amiga minha de longa data (oh, quão pirosa soa em português a frase old friend no feminino, um pequeno escolho neste processo de tradução simultãnea que é a minha escrita), as bocas do Marco (sim, esse, para quem o conhece) no último almoço: Que eu estou muito quieto, que me falta espaço, que merecia melhor, que preciso de mudar. No fundo, que eu estou a precisar de um desafio à altura.
Concordo.
Faz-me falta qualquer coisa que, mais do que pôr os meus dedos a rufar em tambores ou correr pelo teclado, me mê uma razão válida, coerente e electrizante para me levantar de manhã e ir para o escritório. Para passar noites realmente acordado, e não no transe de futuros possíveis que tento esboçar dentro do estreitíssimo túnel em que vou progredindo.
E sei que dizer isto é um convite ao destino para me enlear novamente em meia dúzia de pseudo-responsabilidades que são (percebo logo, mal passou um quarto de hora) coisas que mais ninguém quis fazer e que me serão entregues mal eu sugira, sequer, que não estou satisfeito.
Mas seja. Suponho que o que as outras pessoas entendem por satisfação profissional não é o mesmo que eu, e que este tipo de mal-entendidos deve acontecer todos os dias.
Por isso, amanhã, quando lá chegar, vou amaldiçoar as Segundas-Feiras, a Inbox cheia e os trouble tickets sobre problemas irrisórios, tomar um café, carregar no Play e limitar-me a fazer o que devo.
Mudei bastante, de facto.